Introdução
Viajar com o orçamento apertado pode parecer, à primeira vista, uma limitação. Mas a verdade é que algumas das experiências mais intensas, transformadoras e inesquecíveis da minha vida aconteceram justamente quando eu estava contando cada centavo na estrada. Foi nesses momentos, longe do luxo e do planejamento rígido, que vivi os encontros mais genuínos, me conectei de verdade com culturas locais e fui surpreendida por uma liberdade difícil de explicar.
Ao longo dos últimos anos, como mochileira, explorei diferentes cantos do mundo apostando em uma forma de viajar mais consciente, econômica e, acima de tudo, aberta ao inesperado. Este artigo reúne cinco das experiências mais marcantes que vivi em viagens de baixo custo — situações em que o dinheiro era curto, mas a intensidade da vivência foi imensurável.
Se tem uma coisa que aprendi nessa jornada é que experiências inesquecíveis não dependem de cifras altas, hotéis cinco estrelas ou roteiros de luxo. Elas exigem apenas disposição para se entregar ao desconhecido, escutar histórias diferentes da sua e enxergar beleza onde nem sempre os olhos mais apressados conseguem ver. É disso que este artigo trata: momentos autênticos que o dinheiro não compra — mas que a estrada, com generosidade, oferece a quem tem coragem de embarcar.
Dormir em um Mosteiro Budista na Tailândia
Durante minha viagem pelo norte da Tailândia, descobri por acaso que alguns mosteiros budistas aceitavam visitantes para retiros de meditação — mesmo sem experiência prévia. Era uma dessas oportunidades que não aparecem em nenhum pacote turístico, mas que acabam se revelando como verdadeiros tesouros de viagem. Escolhi um pequeno mosteiro nos arredores de Chiang Mai, onde estrangeiros podiam participar de um retiro silencioso de alguns dias, hospedando-se dentro do próprio templo.
Chegar lá já foi um mergulho em outra realidade. O ambiente era simples, mas carregado de paz. Nada de cama confortável ou refeições fartas: dormíamos em colchonetes no chão e comíamos duas vezes por dia, sempre antes do meio-dia. A rotina começava às 4h30 da manhã, com meditação sentada, caminhadas conscientes e ensinamentos budistas com os monges. Os dias passavam em silêncio, o que no início foi desafiador, mas logo se transformou em algo profundamente libertador.
Essa experiência me ensinou sobre presença, disciplina e humildade. Em um mundo barulhento e acelerado, estar em silêncio absoluto por três dias foi mais impactante do que eu poderia imaginar. E o mais incrível: não paguei nada por isso — apenas uma doação voluntária ao final, conforme minha possibilidade. Foi uma prova concreta de que com o coração aberto e mente curiosa, é possível viver algo extraordinário sem gastar quase nada.
Caminhada de 4 Dias até Machu Picchu pela Trilha Alternativa de Salkantay
Machu Picchu sempre foi um sonho distante para mim — não só geograficamente, mas financeiramente também. Quando comecei a pesquisar, descobri que a famosa Trilha Inca era cara, limitada por licenças e muito concorrida. Foi aí que me apresentaram a Trilha Salkantay, uma alternativa menos turística, mais desafiadora e, acima de tudo, muito mais barata.
Fechei um pacote simples com uma agência local em Cusco, incluindo guia, alimentação básica e barraca. Levei meu próprio saco de dormir e equipamentos emprestados de outros viajantes. A trilha durou quatro dias intensos, atravessando paisagens que pareciam saídas de um sonho: montanhas nevadas, florestas tropicais, rios cristalinos e vilarejos perdidos no tempo. Dormimos em acampamentos rústicos, com banho frio e noites estreladas que jamais esquecerei.
Mas o mais marcante não foi só a beleza da paisagem — foi a conexão humana. Conheci pessoas de diferentes países, compartilhamos histórias ao redor da fogueira e nos ajudamos mutuamente nos trechos mais difíceis. Quando finalmente cheguei a Machu Picchu, depois de tanta superação, a sensação era de conquista real. Nada ali foi entregue de forma fácil. Cada passo teve um valor.
Essa experiência me mostrou que o esforço físico pode ser também um caminho para o autoconhecimento — e que, com criatividade e disposição, é possível realizar grandes sonhos com pouco dinheiro. Foi uma jornada de superação que me custou pouco financeiramente, mas que me enriqueceu de forma incalculável.
Voluntariado em uma Eco Vila na Croácia
Durante meu mochilão pelos Bálcãs, encontrei no site Workaway uma oportunidade de voluntariado em uma eco vila no interior da Croácia. Era uma pequena comunidade sustentável, gerida por um casal de locais que vivia da terra, com energia solar, hortas orgânicas e construções feitas com materiais naturais. Eu não sabia exatamente o que esperar, mas estava disposta a trocar algumas horas de trabalho por hospedagem, alimentação e — quem sabe — boas histórias.
Desde o primeiro dia, fui acolhida como parte da família. Minhas tarefas iam desde plantar sementes e colher verduras até ajudar na cozinha e construir uma parede de barro. O ritmo era lento, mas muito conectado com a natureza. Não havia Wi-Fi, o sinal de celular era fraco e o tempo parecia escorrer de outro jeito. As refeições eram feitas em conjunto, com alimentos colhidos no mesmo dia, e à noite, sentávamos em volta da fogueira para conversar ou simplesmente observar o céu estrelado.
Ali, aprendi muito mais do que técnicas de permacultura. Aprendi sobre cooperação, escuta ativa, simplicidade e respeito pelo ciclo natural das coisas. Ao viver com tão pouco — sem gastos, sem pressa, sem excesso —, percebi o quanto a vida pode ser leve quando nos afastamos das urgências da cidade. Foram duas semanas que transformaram meu olhar sobre consumo, propósito e comunidade.
E o melhor: além de não gastar quase nada, saí de lá com novos amigos e uma sensação de pertencimento que nem sempre encontramos nas grandes cidades. Essa foi, sem dúvida, uma das experiências mais autênticas e regeneradoras que já vivi em uma viagem.
Carnaval de Rua em Olinda com Amigos de Hostel
Se tem uma experiência que prova que alegria e cultura não dependem de dinheiro, é o Carnaval de Olinda. Eu cheguei à cidade poucos dias antes da folia começar, sem planos definidos, apenas com a ideia de me deixar levar pela energia do momento. Me hospedei em um hostel no centro histórico — simples, colorido e já vibrando em ritmo de frevo. Ali, fiz amizades instantâneas com pessoas de várias partes do Brasil e do mundo, todas com o mesmo objetivo: viver o Carnaval na rua, de forma livre e intensa.
Os blocos começavam cedo e terminavam tarde. Bastava sair andando pelas ladeiras de paralelepípedo para encontrar orquestras de frevo, bonecos gigantes, fantasias improváveis e uma multidão dançando sob o sol escaldante. Tudo era gratuito, espontâneo e contagiante. Dividíamos lanches, água e glitter, como se já nos conhecêssemos há muito tempo. Nos dias de festa, o hostel virava um ponto de encontro e apoio: um lugar para descansar entre um bloco e outro, trocar fantasias e cuidar uns dos outros.
Mesmo com o orçamento super apertado, consegui aproveitar cada momento. Fiz minhas próprias fantasias com roupas que já tinha na mochila, levei minha canga para sentar na praça, comi nas barraquinhas de rua e compartilhei tudo com os novos amigos. Foi uma das experiências mais vibrantes da minha vida — e uma verdadeira aula de como a cultura popular brasileira é generosa, acolhedora e acessível.
Viajar para viver o Carnaval de Olinda foi uma escolha impulsiva, mas absolutamente certeira. Voltei para casa com memórias incríveis, uma lista de amigos espalhados pelo mundo e a certeza de que momentos inesquecíveis podem, sim, caber dentro de um orçamento de mochileira.
Acampamento Selvagem na Ilha de Skye, Escócia
A Ilha de Skye, na Escócia, parecia um lugar quase místico nas fotos que eu via: montanhas dramáticas, penhascos imensos, lagos espelhados e um céu que muda de humor a cada hora. Mas hospedagem na ilha era cara — mesmo os hostels ultrapassavam meu orçamento. Foi então que descobri que o “wild camping” (acampamento selvagem) é permitido na Escócia, desde que se respeite a natureza e se deixe tudo como encontrou. Era a solução perfeita: liberdade total, custo zero e uma conexão profunda com o lugar.
Com minha barraca leve e um fogareiro portátil, fui explorar trilhas e paisagens dignas de cinema. Acampei próxima a um lago rodeado por montanhas, onde não havia ninguém por quilômetros. Lembro do silêncio absoluto interrompido apenas pelo vento e pelo som distante de ovelhas. À noite, o céu se abriu numa tempestade de estrelas — uma das visões mais emocionantes da minha vida.
Claro que nem tudo foi romântico: enfrentei chuva, vento gelado e noites desconfortáveis. Mas cada dificuldade foi recompensada com uma sensação de liberdade difícil de descrever. Ter que carregar meu lixo, procurar água potável e me aquecer com camadas de roupa me ensinou a respeitar ainda mais o ambiente e a valorizar o essencial.
Essa experiência me mostrou que viajar de forma autônoma e com poucos recursos não é apenas possível — é transformadora. Com planejamento, respeito à natureza e espírito aventureiro, consegui viver dias absolutamente mágicos gastando quase nada. A Ilha de Skye me ofereceu paisagens de tirar o fôlego, solidão que cura e a certeza de que a beleza mais profunda do mundo está — muitas vezes — longe dos roteiros turísticos e das facilidades.
Conclusão
Viajar com pouco dinheiro não significa abrir mão de qualidade, conforto ou segurança — significa, muitas vezes, trocar o previsível pelo autêntico. Cada uma dessas experiências que compartilhei aqui me ensinou algo diferente: a importância do silêncio interior em um mosteiro na Tailândia, a força do corpo e da mente nas trilhas do Peru, a beleza da vida simples em uma eco vila croata, a energia coletiva do Carnaval em Olinda e a liberdade selvagem sob as estrelas na Escócia.
Todas essas vivências foram possíveis porque me permiti sair do roteiro, confiar nas conexões que a estrada oferece e aceitar que, às vezes, o improviso cria as melhores memórias. Viajar com baixo custo é também um exercício de criatividade, desapego e, acima de tudo, abertura para o novo.
Se você está sonhando em colocar a mochila nas costas, mas se sente limitado pelo orçamento, saiba: a verdadeira riqueza de uma viagem não está no quanto você gasta, mas no quanto você se entrega. Às vezes, tudo que você precisa é de coragem, uma boa dose de curiosidade e disposição para viver o mundo de forma mais simples — e mais intensa. Agora quero saber de você: qual foi a experiência mais inesquecível que você já viveu em uma viagem de baixo custo? Compartilhe nos comentários! 💬🌍