Introdução
Viajar sempre foi uma das minhas maiores paixões — não só pelo prazer de conhecer novos lugares, mas pela possibilidade de mergulhar em culturas diferentes, viver histórias intensas e desafiar meus próprios limites. Foi com esse espírito que decidi embarcar em uma jornada pela América do Sul, sozinha, levando apenas uma mochila, muita coragem e um objetivo ousado: percorrer o continente gastando no máximo R$ 100,00 por dia.
A ideia de viajar com um orçamento tão limitado pode parecer impossível para muitos, mas para mim era um convite à criatividade, à simplicidade e ao desapego. Queria provar que, com planejamento, disposição e uma boa dose de flexibilidade, é possível sim viver experiências transformadoras sem gastar uma fortuna.
Viajar pela América do Sul com R$ 100,00 por dia foi um dos maiores aprendizados da minha vida.
Cada cidade, cada rosto, cada quilômetro percorrido me ensinou algo sobre o mundo — e principalmente, sobre mim mesma. Neste artigo, compartilho como foi essa jornada: os desafios, as soluções criativas, as surpresas pelo caminho e tudo que vivi ao me lançar nessa aventura econômica e inesquecível.
Por Que Escolhi Esse Estilo de Viagem
Antes mesmo de traçar o roteiro ou pensar no que levar na mochila, eu me fiz uma pergunta essencial: por que quero viajar com tão pouco dinheiro? A resposta não era sobre economia, mas sobre propósito.
Sempre acreditei que as melhores experiências de viagem não estão nas atrações caras ou nos hotéis luxuosos, mas nas conexões humanas, nas descobertas espontâneas e na vivência real dos lugares. Viajar com um orçamento enxuto era, para mim, uma forma de estar mais próxima da vida cotidiana local, de me deslocar como os moradores, de comer nos mesmos lugares, de viver a cidade como ela realmente é.
Outro fator que pesou na decisão foi a vontade de mostrar, inclusive para mim mesma, que é possível realizar grandes sonhos mesmo com poucos recursos. Ouvi muitas vezes que viajar era “coisa de gente rica” — e eu queria desconstruir essa ideia. Sabia que o desafio de me manter com R$ 100,00 por dia exigiria criatividade, flexibilidade e muito jogo de cintura, mas também sabia que me traria aprendizados que nenhuma viagem tradicional proporcionaria.
Mais do que economizar, eu queria experimentar uma forma mais livre, leve e consciente de explorar o mundo. E foi exatamente isso que encontrei.
Planejamento Pré-Viagem
Apesar do espírito aventureiro, eu sabia que para conseguir viajar pela América do Sul com apenas R$ 100,00 por dia, o planejamento seria essencial. Não dava para simplesmente sair sem rumo — cada decisão precisava ser pensada estrategicamente para caber no orçamento e garantir uma experiência rica, mesmo com recursos limitados.
O primeiro passo foi escolher os países que combinavam com esse tipo de viagem. Optei por lugares onde o custo de vida fosse mais acessível e onde eu pudesse circular com facilidade: Bolívia, Peru, Equador, Colômbia e alguns trechos da Argentina e do Chile. Com isso em mente, montei um roteiro flexível, que me permitia mudar os planos se encontrasse oportunidades mais econômicas ou convites inesperados pelo caminho.
Na parte financeira, fiz um levantamento aproximado dos gastos por país — transporte, alimentação, hospedagem e atividades. Estabeleci uma média diária de R$ 100,00, com margem para dias em que gastaria menos e outros em que precisaria extrapolar um pouco. Também defini um fundo de emergência para imprevistos, algo que considero indispensável para qualquer viajante, especialmente quem se aventura com o orçamento mais justo.
Levei uma mochila com o essencial: roupas leves e versáteis, itens de higiene, um bom par de tênis, uma canga multiuso, garrafa reutilizável, documentos e um caderno para anotações e registros. Nada de excesso — cada item foi pensado para ser útil em diferentes situações.
Também baixei alguns aplicativos que me ajudariam muito na estrada, como mapas offline, tradutores, planilhas de gastos, plataformas de hospedagem alternativa e grupos de viagem. A internet foi minha grande aliada nessa fase, onde troquei dicas com outros mochileiros, pesquisei formas de economizar e até encontrei voluntariados que ajudaram a reduzir os custos.
Planejar foi um equilíbrio entre organização e desapego: o essencial estruturado, mas o coração aberto para tudo o que pudesse surgir pelo caminho.
Dicas Práticas para Economizar Durante a Viagem
Viver com R$ 100,00 por dia em outro país exige criatividade, adaptabilidade e algumas estratégias bem afinadas. Ao longo da minha jornada pela América do Sul, fui descobrindo jeitos de economizar sem abrir mão de viver intensamente cada lugar. Aqui compartilho as práticas que mais funcionaram para mim:
Transporte: andar, compartilhar, improvisar
Sempre que possível, eu caminhava. Além de economizar, isso me permitia conhecer melhor as cidades e seus detalhes. Para trajetos mais longos, priorizei ônibus regionais, que são mais baratos que ônibus turísticos. Em alguns trechos, usei caronas — principalmente com o apoio de aplicativos como o BlaBlaCar, ou conversando com locais em postos de gasolina e terminais rodoviários. Em cidades menores, dividir táxis ou usar bicicletas alugadas também foi uma ótima alternativa.
Hospedagem: menos luxo, mais conexão
Hostels foram minha primeira opção, especialmente os que ofereciam cozinha coletiva (economia na comida!) e café da manhã incluso. Mas as maiores economias vieram com Couchsurfing e voluntariados. Em várias cidades, consegui me hospedar em troca de algumas horas de trabalho por dia — ajudando em recepções de hostel, cafés ou projetos sociais. Além de economizar, essas experiências me proporcionaram conexões únicas com pessoas do mundo todo.
Alimentação: comer bem e barato é possível
Ao invés de restaurantes turísticos, comia onde os locais comiam: mercados, feiras, pequenas lanchonetes. Aprendi a amar a comida simples e cheia de sabor da rua — um menu del día no Peru, por exemplo, custa o equivalente a R$ 10,00 e inclui entrada, prato principal e suco. Também cozinhava bastante nos hostels, comprando ingredientes nos mercados. Ter uma garrafinha de água reutilizável e lanches prontos na mochila ajudava a evitar gastos desnecessários.
Passeios: valorize o que é gratuito
Em cada cidade que visitei, procurei por atividades gratuitas ou a baixo custo: caminhadas guiadas, museus com entrada livre, trilhas, eventos locais. Muitos lugares oferecem dias específicos de gratuidade ou preços especiais para estudantes e mochileiros. Também aprendi a apreciar o simples: ver o pôr do sol num mirante local ou conversar com um vendedor de rua, muitas vezes, valia mais do que qualquer tour pago.
Essas práticas não só me ajudaram a manter o orçamento, como me conectaram de verdade com os lugares por onde passei. Aprendi que viajar barato não é sinônimo de abrir mão do prazer — é, na verdade, um convite para viver de forma mais autêntica e atenta.
Meu Dia a Dia com R$ 100,00
Uma das perguntas que mais recebo é: “Mas o que realmente dá pra fazer com R$ 100,00 por dia?” A resposta é: dá pra fazer muita coisa — se você souber priorizar e estiver aberta a viver com simplicidade. Para ilustrar, aqui vai um exemplo real de como foi um dia típico meu na cidade de Arequipa, no Peru.
Café da manhã incluso no hostel – R$ 0,00
Comecei o dia com o café da manhã do hostel, já incluso na diária. Pão com manteiga, café e frutas – simples, mas suficiente para me dar energia para caminhar bastante.
Almoço em restaurante popular (menu del día) – R$ 10,00
O famoso “menu do dia” é um grande aliado de quem viaja barato. Por cerca de 8 a 10 soles (em média R$ 10,00 na época), comi uma entrada de sopa quente, um prato principal com arroz, frango e legumes, além de um copo de suco natural.
Ingresso para o Museu Santuários Andinos – R$ 15,00
Visitei o museu onde está exposta a múmia Juanita, uma das atrações culturais mais interessantes da cidade. O ingresso de estudante (com minha carteirinha internacional) me garantiu um ótimo desconto.
Caminhada pelo centro histórico e mirante de Yanahuara – R$ 0,00
Passei a tarde explorando o centro colonial de Arequipa e subi até o mirante de Yanahuara, que tem uma vista incrível do vulcão Misti. Atividades ao ar livre sempre foram meu tipo favorito de passeio — e o melhor: gratuitas.
Jantar preparado na cozinha do hostel – R$ 12,00
Comprei ingredientes no mercado local por cerca de R$ 12,00 e preparei um jantar leve: arroz, ovos mexidos e legumes. Ainda sobrou para o almoço do dia seguinte.
Hospedagem em quarto coletivo de hostel – R$ 55,00
Essa era uma das minhas maiores despesas diárias, mas ainda assim compensava. Além de confortável e seguro, o hostel era ponto de encontro com outros viajantes, o que tornava a experiência ainda mais rica.
Total do dia: R$ 92,00
Esse foi apenas um dos muitos dias que consegui manter dentro do limite — alguns até com folga. Claro que em cidades mais caras, como Santiago ou Buenos Aires, o desafio era maior, mas equilibrando os gastos entre os destinos, consegui manter a média geral.
O segredo era estar atenta às oportunidades, pesquisar com antecedência e, principalmente, manter a mente aberta para alternativas menos óbvias. Foi assim que cada dia se tornou único — e financeiramente possível.
Desafios e Superações
Nem tudo foram flores durante essa jornada. Viajar com um orçamento limitado exige não só planejamento, mas também resiliência. Houve dias em que o dinheiro quase não dava, em que me vi diante de imprevistos sem solução imediata, e em que precisei confiar em minha criatividade (e em algumas boas almas pelo caminho) para continuar.
Um dos momentos mais marcantes foi em La Paz, na Bolívia. Cheguei à cidade de madrugada após uma viagem longa de ônibus e, por um erro na reserva, descobri que meu hostel havia sido cancelado. Sozinha, cansada e com frio, tive que improvisar. Conversei com outros viajantes na rodoviária e uma garota colombiana me indicou um hostel alternativo nas proximidades, mais simples e ainda mais barato. Foi uma noite desconfortável, mas que me ensinou a manter a calma mesmo em situações difíceis.
Outro desafio recorrente era lidar com a instabilidade da internet — algo que parece simples, mas quando você depende de aplicativos para hospedagem, navegação e comunicação, pode se tornar uma dor de cabeça. Aprendi a sempre ter capturas de tela com endereços e mapas salvos, e anotar à mão informações importantes.
Em muitos momentos, o dinheiro do dia simplesmente não era suficiente. Às vezes, o transporte era mais caro do que o previsto, ou surgia uma taxa inesperada em algum passeio. Nesses casos, adaptava: fazia um dia mais barato depois, pulava uma refeição fora e preparava algo no hostel, ou trocava um passeio pago por uma caminhada alternativa.
Mas talvez o maior desafio tenha sido emocional: lidar com a solidão, o cansaço e o medo do desconhecido. Estar fora da zona de conforto diariamente pode ser exaustivo. Houve dias em que pensei em desistir. Mas, em cada um deles, algo ou alguém me puxava de volta para o propósito da viagem — seja uma conversa com um morador, um pôr do sol incrível ou uma sensação silenciosa de “estou no lugar certo”.
Esses obstáculos, embora difíceis, foram também os maiores professores dessa jornada. Foi superando cada um deles que descobri o quão capaz eu era de me virar sozinha — e o quanto ainda podia aprender com o mundo ao meu redor.
Pessoas e Histórias Inesquecíveis
Se tem algo que fez essa viagem valer cada centavo (ou melhor, cada real), foram as pessoas que conheci pelo caminho. Viajar com pouco me colocou em lugares e situações onde o luxo era substituído por algo muito mais valioso: conexões humanas verdadeiras.
Em Cusco, por exemplo, participei de um voluntariado em um hostel. Foi lá que conheci uma senhora peruana chamada Doña Isabel, que cozinhava todos os dias para os voluntários. A comida era simples, mas o carinho com que ela preparava cada refeição e contava suas histórias fez daqueles almoços momentos de puro aconchego. Com ela, aprendi receitas locais e ganhei lições de vida que não se encontram em nenhum guia de viagem.
Na Bolívia, durante uma longa espera por carona em uma estrada perto de Potosí, fui convidada por um senhor a tomar chá com sua família. Eles moravam em uma casa de adobe no meio do nada, com vista para as montanhas. Conversamos por horas, entre silêncios confortáveis e risadas tímidas. Saí de lá com um cobertor emprestado, uma maçã e um aperto no peito — de gratidão e de humildade. Aquela generosidade, sem esperar nada em troca, ficou marcada em mim.
Em Medellín, na Colômbia, conheci dois mochileiros argentinos com quem compartilhei algumas semanas de viagem. Dividimos quartos, compramos comida juntos, rimos das mesmas piadas bobas e nos apoiamos nos momentos difíceis. A sensação de pertencimento que nasceu ali foi como ter uma pequena família na estrada.
Essas histórias me mostraram que, mesmo viajando sozinha, eu nunca estava realmente só. A estrada é um lugar cheio de encontros improváveis, de afetos instantâneos, de aprendizados que vêm na forma de abraços, partilhas e olhares que dizem muito, mesmo sem palavras.
Foram essas pessoas — e tantas outras que passaram por mim mesmo que por instantes — que transformaram meu roteiro em uma verdadeira experiência de vida.
O Que Aprendi com Essa Experiência
Viajar pela América do Sul com apenas R$ 100,00 por dia não foi só uma questão de finanças — foi um mergulho profundo em mim mesma e no mundo. Ao longo dos meses na estrada, fui desmontando crenças, abrindo mão de certezas e descobrindo formas mais simples e mais verdadeiras de viver.
Aprendi que o que realmente importa numa viagem — e na vida — não cabe numa mala. Não são as roupas, os gadgets ou os souvenirs que fazem a diferença, mas os momentos vividos, as pessoas encontradas, os cheiros, os sons e os sabores que permanecem na memória de forma quase mágica.
Percebi também o poder da adaptação. Nem sempre as coisas saíram como o planejado, e muitas vezes precisei improvisar. Mas foi justamente nesses momentos de improviso que surgiram as melhores histórias, os aprendizados mais profundos e os encontros mais significativos.
Viajar com pouco me ensinou a valorizar mais o presente, a me conectar com o essencial, a ter gratidão pelo simples — uma cama limpa, uma conversa gentil, um prato de comida quente. Aprendi a confiar em mim, nas minhas decisões, no meu instinto. A estrada, com todos os seus altos e baixos, me mostrou que sou muito mais capaz do que imaginava.
E, talvez o mais importante: entendi que viajar não é escapar da realidade, mas sim se lançar a ela com os olhos mais atentos e o coração mais aberto. Que não é preciso ter muito dinheiro para viver algo grandioso — às vezes, tudo o que você precisa é coragem, disposição e um pouco de fé no caminho.
Dicas Finais para Quem Quer Fazer o Mesmo
Se você também sonha em se lançar na estrada e provar que é possível viajar com pouco, aqui vão algumas dicas valiosas baseadas na minha experiência real:
Planeje o essencial, mas não tudo
Tenha uma ideia de roteiro, estimativas de custos e um fundo de emergência. Mas não prenda a viagem a um cronograma rígido. Deixe espaço para o inesperado — ele costuma ser o melhor da jornada.
Use a tecnologia a seu favor
Aplicativos como Maps.me, Rome2Rio, Couchsurfing, Workaway, Hostelworld e XE Currency me ajudaram a economizar, me localizar, encontrar hospedagem e oportunidades de voluntariado.
Aprenda o básico do idioma local
Mesmo um vocabulário simples em espanhol faz uma enorme diferença. Mostra respeito pela cultura local e facilita (muito!) sua comunicação e segurança.
Leve leve — em tudo
Viaje com pouca bagagem. Isso facilita sua mobilidade e reduz custos em transportes. E leve também uma mente leve: sem expectativas rígidas, com disposição para lidar com imprevistos e se adaptar.
Não subestime o poder da gentileza
Sorrir, perguntar com educação, agradecer e ajudar quando puder — esses pequenos gestos abrem portas, criam laços e transformam a maneira como o mundo responde a você.
Mantenha um diário ou registros
Anotar seus gastos, aprendizados e histórias ajuda a manter o controle do orçamento e ainda rende memórias incríveis para o futuro — e, quem sabe, até um blog 😉
Viajar pela América do Sul com R$ 100,00 por dia foi uma das experiências mais desafiadoras, intensas e transformadoras da minha vida. Não foi uma viagem de luxo, mas foi rica em todos os sentidos que importam. Se eu consegui, você também consegue.
Não se trata de quanto dinheiro você tem, mas de quanto coração está disposto a colocar na sua jornada. Boa viagem — e que ela te leve muito além dos mapas.
Conclusão
Essa jornada me ensinou muito mais do que qualquer livro ou sala de aula poderia ensinar. Descobri que a liberdade não está ligada ao dinheiro, mas à disposição de enxergar o mundo com outros olhos. Aprendi a confiar no caminho, a abraçar o improviso e a encontrar beleza na simplicidade.
Viajar pela América do Sul com R$ 100,00 por dia foi um exercício diário de criatividade, empatia e presença. Encontrei generosidade onde menos esperava, provei sabores que nunca imaginei e vivi experiências que não custaram nada — mas valeram tudo.
É possível sim! Com planejamento, coragem e uma boa dose de flexibilidade, você pode transformar esse sonho em realidade e viver uma das fases mais inesquecíveis da sua vida.
Agora quero ouvir de você: já viajou com pouco dinheiro?
Tem vontade de se lançar numa aventura como essa?
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