Introdução
Viajar de carona pela Europa pode parecer coisa de filme, ou talvez algo meio romântico demais para quem nunca saiu do próprio país com uma mochila nas costas. Mas posso garantir: é real, intenso, e absolutamente transformador. Neste artigo, quero compartilhar com você uma das experiências mais marcantes das minhas viagens — pegar carona em diferentes países europeus — e como essa escolha me ensinou sobre confiança, segurança e a gentileza escondida nas estradas do continente.
Apresentação da prática de pegar carona na Europa
Pegar carona na Europa não é nenhuma novidade, especialmente entre mochileiros e viajantes de perfil mais alternativo. Em muitos países, como Alemanha, França e Eslovênia, a cultura da carona ainda é bastante viva e, em alguns lugares, até incentivada. Existem pontos conhecidos nas estradas onde os viajantes se posicionam, aplicativos que conectam motoristas e caroneiros, e até fóruns online com relatos e dicas sobre os melhores trajetos. Diferente do que muita gente imagina, nem sempre é perigoso ou desconfortável — embora, claro, todo cuidado seja pouco.
Breve explicação sobre por que decidi experimentar essa forma de viagem
A decisão de pegar carona veio de uma combinação de fatores: orçamento apertado, vontade de me conectar com os locais de uma forma mais direta, e, acima de tudo, curiosidade. Eu já havia lido relatos inspiradores de pessoas que cruzaram países inteiros contando com a solidariedade de desconhecidos. Mas, até então, tudo isso parecia distante demais da minha realidade. Foi só quando me vi em uma estrada na Croácia, com o ônibus cancelado e um pôr do sol incrível à minha frente, que pensei: “E se eu tentar?”. E tentei. E foi o início de uma aventura que mudaria minha forma de ver o mundo — e as pessoas.
Destaque do objetivo do artigo: compartilhar meu relato pessoal e dicas de segurança para quem pensa em fazer o mesmo
Neste artigo, quero dividir com você, leitor ou leitora do Mochila Esperta, o que vivi ao pegar carona na Europa — os encontros incríveis, os imprevistos, os aprendizados e, principalmente, as medidas que tomei para manter minha segurança. Sei que muita gente tem curiosidade, mas também bastante receio. Por isso, além do meu relato pessoal, incluí neste texto um conjunto de dicas práticas de segurança, baseadas na minha própria experiência. Se você já pensou em viver algo parecido, ou quer apenas entender melhor como tudo funciona na estrada, este artigo é para você.
Por que Escolhi Pegar Carona
Durante uma longa viagem pela Europa com orçamento apertado e muita vontade de explorar mais do que os pontos turísticos clássicos, comecei a repensar a forma como me deslocava entre cidades e países. Eu já estava acostumada a usar ônibus e trens baratos, mas sentia que estava sempre dentro de uma bolha — cercada por outros viajantes, sem muito contato com a vida real de quem vivia ali. A carona surgiu, então, não só como uma solução econômica, mas como uma maneira de me conectar mais profundamente com o caminho, e não só com o destino.
Minha primeira motivação foi, sim, o dinheiro. Em algumas rotas, os preços de ônibus ou trem simplesmente não cabiam no meu orçamento de mochileira. Descobrir que outras pessoas estavam se deslocando nos mesmos trajetos e dispostas a compartilhar seus assentos — sem cobrar nada ou pedindo apenas ajuda com o combustível — foi um alívio enorme.
Mas foi mais do que isso. Eu queria viver uma viagem com mais contato humano. Queria ouvir histórias locais, saber como era o dia a dia de quem morava naqueles vilarejos ou cidades onde eu só passava correndo. Queria que o trajeto entre um ponto e outro deixasse de ser apenas um tempo morto para se tornar parte da experiência.
Claro que o medo bateu. Como mulher viajando sozinha, pensei bastante antes de esticar o polegar na beira da estrada ou aceitar uma carona via aplicativo. Conversei com outras viajantes que já tinham feito isso, li bastante, e só quando me senti minimamente segura é que resolvi arriscar. E posso dizer: foi uma das decisões mais marcantes da minha jornada.
Minhas Experiências Pegando Carona na Europa
Primeira carona: o frio na barriga e o primeiro motorista
Minha primeira carona foi na Eslovênia, entre Ljubljana e o Lago Bled. Eu já tinha lido que a prática era comum por lá, então decidi encarar. Lembro até hoje da sensação de ficar parada na beira da estrada, cartaz improvisado na mão, coração acelerado e o pensamento: “Será que alguém vai mesmo parar pra mim?”
Demorou uns 25 minutos até um carro encostar. Era um senhor simpático, que falava um inglês básico, mas com um sorriso acolhedor. Mostrei no mapa pra onde eu queria ir, ele confirmou com a cabeça e abriu a porta. Entrei com o coração aos pulos.
Durante o trajeto, conversamos sobre a vida dele no interior da Eslovênia, sobre o turismo na região e sobre como ele mesmo já havia viajado de carona na juventude. Ao me deixar no centro de Bled, ele me desejou boa sorte, e eu desci do carro com uma mistura de alívio e euforia. Foi aí que percebi que pegar carona podia ser muito mais do que uma forma de economizar — era uma maneira de criar conexões inesperadas.
Momentos marcantes na estrada
Cada país trouxe uma experiência diferente, mas alguns momentos ficaram gravados com mais força. Na Alemanha, por exemplo, um jovem casal me levou de Munique até Nuremberg e me convidou para almoçar com eles em uma vila no caminho. Sentamos num pequeno restaurante local, onde comi o melhor schnitzel da minha vida e conversamos sobre política, viagens e música. Eles estavam acostumados a dar carona e me disseram que faziam isso justamente para conhecer pessoas com histórias diferentes.
Na Croácia, fui levada por um caminhoneiro que, apesar da aparência fechada, era um verdadeiro contador de histórias. Ele falava um inglês quebrado, mas fazia questão de me mostrar cada ponto da estrada e explicar o que significava para ele. Até me ensinou a dizer algumas palavras em croata. Quando nos despedimos, me senti como se tivesse cruzado o país ao lado de um velho amigo.
E teve também um dia na França em que esperei por mais de duas horas até conseguir uma carona — mas quando consegui, fui levada por uma artista que estava indo para um festival e me contou tudo sobre a cena cultural alternativa francesa. Foi uma conversa tão rica que até trocamos contatos, e ela me indicou outros lugares “fora do roteiro turístico” para visitar.
Situações desconfortáveis e como reagi
Nem tudo foi perfeito, claro. Teve uma situação na Hungria em que aceitei uma carona que, no início, parecia tranquila, mas o motorista começou a fazer perguntas invasivas demais. Eu fiquei alerta, respondi com evasivas e, assim que chegamos à cidade que eu tinha mencionado, pedi para descer imediatamente — mesmo que não fosse bem o centro. Preferi andar o resto do caminho a continuar desconfortável.
Em outra ocasião, na Itália, um motorista começou a dirigir de forma imprudente, acelerando demais e ultrapassando perigosamente. Pedi educadamente para ele parar em um posto de gasolina, alegando que precisava ir ao banheiro — e ali mesmo desisti da carona. Comprei uma garrafa d’água, respirei fundo e me reorganizei.
Esses momentos me ensinaram muito sobre confiar na minha intuição e colocar a segurança em primeiro lugar. Não importa se você vai parecer grosseira: se algo não parece certo, o melhor é sair da situação. O importante é sempre ter um plano B — e manter a calma.
Dicas de Segurança para Pegar Carona na Europa
Depois de viver diferentes situações na estrada — boas e nem tanto — aprendi que pegar carona pode ser seguro, desde que a gente leve a sério alguns cuidados básicos. Essas são as dicas que eu mesma sigo, e que podem fazer toda a diferença para quem está pensando em se aventurar por esse caminho.
Escolha bem o local para pedir carona
Ficar em qualquer canto da estrada não é uma boa ideia. Procure lugares onde os carros possam parar com segurança, como postos de gasolina, saídas de pedágios, áreas de descanso ou pontos específicos recomendados por outros viajantes (o site Hitchwiki é ótimo para isso). Evite lugares isolados demais, especialmente se estiver sozinha.
Primeiras impressões importam — para os dois lados
Vista-se de forma discreta, mas visivelmente viajante (mochila, plaquinha com destino, sorriso no rosto). Isso ajuda a transmitir confiança e mostrar que você está ali por um motivo legítimo. Ao mesmo tempo, avalie o motorista: olhe nos olhos, confie no seu instinto e não entre no carro se algo parecer “fora do tom”. Você tem todo o direito de recusar uma carona.
Leve o essencial com você
Tenha sempre:
Um celular com bateria cheia (e power bank, se possível).
Mapas offline (uso o Maps.me e o Google Maps com trechos baixados).
Água, algum lanche leve e roupas adequadas ao clima.
Uma plaquinha com o nome da cidade para onde está indo — isso aumenta muito as chances de ser notada por motoristas dispostos.
Use a tecnologia a seu favor
Aplicativos como BlaBlaCar podem ser uma alternativa mais segura e previsível, especialmente para trajetos longos. Você vê o perfil do motorista, avaliações e horários combinados. Outra dica é o próprio WhatsApp ou Google Maps para compartilhar sua localização em tempo real com alguém de confiança.
Tenha um código de conduta com motoristas
Seja gentil e grata, mas mantenha seus limites claros. Não aceite brincadeiras invasivas, perguntas desconfortáveis ou mudanças de rota inesperadas. Em caso de dúvida, peça para parar e desça. Você não está “presa” a ninguém.
Avise alguém sempre que for pegar carona
Mande uma mensagem com a placa, o modelo do carro e o trajeto estimado. Um print rápido pode ajudar bastante. Também costumo tirar uma selfie discreta do lado de fora do carro, como se estivesse apenas registrando a viagem — isso me deixa mais tranquila e sinaliza que alguém sabe com quem estou.
Confie na sua intuição — mesmo que tudo pareça certo
Essa talvez seja a dica mais valiosa. Se você sentir um aperto no estômago, uma dúvida insistente ou um desconforto inexplicável, não vá. Já deixei de aceitar caronas que, racionalmente, pareciam seguras, mas algo dentro de mim dizia “não”. E nunca me arrependi.
Vale a Pena Pegar Carona na Europa?
Se me perguntarem hoje se vale a pena pegar carona na Europa, minha resposta é: depende do seu perfil, mas para mim, foi uma das experiências mais enriquecedoras que vivi em viagem.
Pegar carona me tirou da zona de conforto e me ensinou sobre vulnerabilidade, confiança e improviso. Foi uma escola sobre o lado humano da estrada. Conheci pessoas que jamais teria encontrado em hostels ou pontos turísticos. Ouvi histórias de vida, ganhei dicas locais incríveis e vi como a generosidade pode surgir nos lugares mais inesperados.
Claro, não foi tudo um mar de rosas. Tive que lidar com imprevistos, desconfianças e alguns apertos. Mas, ao olhar para trás, percebo que essas situações me fortaleceram e ampliaram minha percepção sobre o mundo — e sobre mim mesma.
Essa forma de viajar exige atenção, planejamento e, acima de tudo, escuta interior. Não recomendo que ninguém vá sem preparo ou por impulso. Mas, se você sente essa curiosidade no peito e está disposta a respeitar seus próprios limites, pegar carona pode te proporcionar encontros e aprendizados que nenhum bilhete de trem oferece.
Para mim, não foi apenas uma forma de economizar dinheiro. Foi uma maneira de viver a estrada como ela é: cheia de surpresas, conexões e liberdade.
Conclusão
Viajar de carona pela Europa foi, sem dúvida, uma das experiências mais intensas e transformadoras da minha vida de mochileira. Mais do que uma alternativa econômica, foi uma forma de viver o caminho com mais presença, conhecer pessoas incríveis e desafiar meus próprios limites.
Se você está considerando pegar carona em alguma parte da sua viagem, recomendo que vá com mente aberta, planejamento cuidadoso e, acima de tudo, confiança no seu instinto. Não é para todo mundo — e tudo bem. Mas se você sente esse chamado pela estrada e sabe se cuidar, a recompensa pode ser muito maior do que simplesmente economizar no transporte.
Para te ajudar a se organizar, deixo aqui um checklist prático com os principais cuidados que levo comigo sempre que opto por viajar de carona:
✅ Checklist para pegar carona com segurança na Europa
Escolha locais seguros e estratégicos para pedir carona (postos, áreas de descanso, saídas de cidade).
Tenha com você um celular com bateria cheia e, se possível, um carregador portátil.
Leve água, um lanche leve e roupas adequadas ao clima.
Use mapas offline para se orientar mesmo sem internet.
Compartilhe sempre seu trajeto e informações do veículo com alguém de confiança.
Observe bem o motorista antes de aceitar a carona — e confie no seu instinto.
Seja educada, mas firme: saiba dizer “não” se algo parecer fora do lugar.
Tenha sempre um plano B — e não hesite em mudar os planos se for preciso.
No fim das contas, a estrada ensina — e cada carona traz algo novo. Espero que meu relato te inspire e te ajude a tomar decisões mais conscientes na sua própria jornada. E se um dia, no meio de alguma estrada europeia, você também esticar o polegar, que seja com coragem, cuidado e o coração aberto para o que vier. Boa viagem ✨🚗